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segunda-feira, dezembro 22, 2003

Os Meninos de Ouro vão de férias. Após estes primeiros meses na blogosfera, e aproveitando a quadra festiva, é tempo de parar por uns dias, arejar as ideias, fazer coisas mais importantes. Celebrar aquilo que realmente merece ser celebrado. Voltar às origens e relembrar quem somos, onde estamos e que caminhos queremos seguir no ano que está para nascer. Este blog vai por isso parar alguns dias, o que, acreditamos, só nos irá fazer bem. Apesar do enorme prazer que nos dá, da liberdade de pensar, escrever e polemizar que nos oferece, este blog está longe de ser a coisa mais importante nas nossas vidas. E felizmente que assim é. Prometemos voltar nos primeiros dias do novo ano, e de cara lavada: um novo visual, com imagens, novas cores e mais links. Muito obrigado a todos quantos, sem excepção, nos têm lido, escrito ou linkado. Um Feliz Natal para todos e que os melhores dos vossos sonhos se tornem realidade em 2004.
STILL NOT WELL: Parece que já não sou só eu e o pessoal do Complot a termos a menina Stilwell (uma das gémeas, isto é) como musa. O Diabo acaba de escrever um magnífico post no qual relata o seu encontro imediato do segundo grau com uma das ditas meninas. Vale a pena lê-lo. Achei-o assaz divertido, dado que após também ter tido um fugaz encontro com ela (se bem que apenas do primeiro grau, helas), dei por mim a pensar exactamente no mesmo. Ó Pedro, quando é que nos podes apresentá-la? JR

NOTA: Este blog não tem (ainda) musa oficial. Talvez no novo ano possamos discutir o assunto. Vão pensando em sugestões!

sábado, dezembro 13, 2003

A ETERNA NOVIDADE DO MUNDO: Foi hoje de manhã. Um momento fugaz, único e de uma beleza irrepetí­vel. Descia a Av. Roma de carro, sozinho. O trânsito do costume. Os Sábados de manhã deviam ser todos assim. A luz dourada e serena do final de Outono. Os passeios, que durante a semana são percorridos por uma multidão inquieta, veloz e atarefada dão então abrigo a melancolicos e plácidos casais de meia-idade passeando calmamente, pais de família a comprarem o jornal no quisque sem pressas, mães a passearem os filhos, amigas a percorrerem as montras. Lembro-me dos Sábados de manhã, em pequeno, quando o meu pai me trazia enquanto vinha comprar o Expresso ou fazer compras. Da livraria Barata, e das suas imensas prateleiras, cheias de livros de todas as cores, que me fascinavam. Do perfume do papel dos jornais e revistas, do silêncio acolhedor. "E cá estou eu, a conduzir pela avenida, cheio de pressa, a um Sábado de manhã", pensei eu. Pensava em tudo isto enquanto descia a avenida. Fico parado no trânsito, em frente ao BCP. O meu olhar é desviado para a esquerda e, por breves segundos, sou surpreendido por uma rara visão. No passeio em frente à Marisqueira Roma, caminha lentamente uma rapariga lindí­ssima, com um cachecol encarnado e longos cabelos castanhos a envolverem-lhe o rosto alví­ssimo, de máquina fotográfica digital em riste. Será uma turista? Não sei. Mas há algo nela que me prende a atenção de uma forma definitiva, violenta: o seu olhar feliz, sereno, preenchido, enquanto tira fotografias a tudo. Ao andrajoso mendigo de rosto nobre e longas barbas que passa por ela, surpreendido com a súbita atenção que uma linda menina lhe presta. Ao grupo de transeuntes junto à passadeira, esperando pelo sinal verde para atravessarem, ignorando que nesse instante acabaram de entrar para o album de memórias da rapariga com quem se tinham cruzado há poucos segundos. Cada instante de vida naquela avenida, naquela manhã, captado silenciosa e avidamente pela objectiva de uma rapariga cujo único objectivo àquela hora era marcar para sempre na sua memória aqueles momentos de luz dourada e cristalina, de pura epifânia, vivida numa cidade que não é a sua. O trânsito arranca de novo, devolvendo-me de novo à realidade. Lembro-me de Alberto Caeiro:

O meu olhar é ní­tido como um girassol
Tenho os costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para esquerda
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que eu nunca antes tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo

Creio no mundo como num malmequer
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo

Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que amar
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência
E a única inocência não pensar


Nada a fazer: são almas gémeas. Espero que o Alberto a encontre um dia. Eles merecem-se. JR

sexta-feira, dezembro 12, 2003

A CRUZ E O VÉU: Surgiu recentemente na Europa uma interessante polémica, relativamente ao uso do véu por parte de raparigas e mulheres muçulmanas nas escolas e empresas do Velho continente. Curiosa foi também a remoção de uma cruz duma sala de aula italiana, por exigência de um senhor muçulmano cujo filho estudava nessa escola...
Li artigos em jornais e revistas, li o interessante debate que tem sido feito no Abrupto, e antes de ter as ideias cristalizadas lembrei-me de fazer algo que poucos se lembraram durante este debate: perguntei a opinião a uma rapariga de religião islâmica.
A minha colega, que é do norte de Moçambique, tem-me esclarecido sobre várias questões. Por exemplo, o Ramadão é determinado por um calendário lunar, mas em diversas regiões do globo o tempo pode estar nublado, e tornava-se complicado determinar o primeiro dia. Os peritos sauditas, com auxílio da Astronomia, estabeleceram um dia único para todo o mundo, em cada ano, permitindo que hoje em dia o Ramadão comece simultaneamente em todo o globo.
Ela não usa véu, e quando lhe falei nisso, ela explicou-me que “O uso do véu não é uma questão religiosa, é antes uma questão cultural. Na região onde nasci nenhuma rapariga usa véu.”Ela prosseguiu, salientando que está preocupada, isso sim, com regimes que impõem o uso de véus ou burkas pela força do terror. Eu concordei. Os religioso e teólogos que durante séculos mantiveram o formidável património espiritual do Islão, impuseram os seus princípios através do uso da Sabedoria e da Inteligência. Discretos, não os vemos geralmente na televisão nem nos jornais – aponto aqui o dedo a todos os que nos meios de informação têm denegrido a imagem dessa religião, e acrescento um pensamento que tive recentemente: se a comunicação social não noticiasse um único atentado terrorista, valeria a pena realizar atentados? De que serviria dedicar a vida a uma causa, arriscando a pele, se depois ninguém saberia o nome ou as causas envolvidos? E mais, o combate ao terrorismo seria mais eficaz, pois sem se saber nomes de organizações de mártires, tais organizações teriam dificuldade em encontrar abrigo e financiamentos entre os seus pares, pois não teriam “prestígio” nem “glórias” conhecidos pelo público em geral.
Em Portugal, a forma como os muçulmanos são representados e exprimem a sua religião são exemplares. E ao ouvir o sheik David Munir falar com aquela serenidade, penso que em vez de serem os portugueses (de todas as religiões) a verem a violência do mundo todas as noites na televisão, devia ser parte desse mundo violento a aprender como se dão bem as religiões em Portugal.
Voltando ao assunto inicial; pessoalmente defendo que se uma pessoa desejar de sua livre vontade vestir-se de acordo com a sua cultura, tem todo o direito a fazê-lo. Claro que a burka é inaceitável, mesmo sendo voluntária, pois colocaria problemas de identificação grotescos, quer dentro das escolas quer fora delas. Um dos exemplos mais simples sobre os excessos da liberdade cultural e religiosa é a resposta de Calvin (personagem central da banda desenhada de Bill Waterson) durante um teste: “Recuso-me a responder a essa pergunta pois vai contra os meus princípios religiosos!”.
Claro que uma criança facilmente é induzida a aceitar certos costumes. Mas o que diríamos nós se agora saísse uma lei a determinar que toda a criança cristã que se recuse a comer carne de porco, não poderia ser obrigada a comer pelos seus pais?
Argumentos demagógicos à parte, defendo toda a liberdade de costumes, tradições e religiões, desde que a dignidade e a integridade física de cada ser humano não sejam prejudicadas.
Defendo assim que o abate tradicional do carneiro, feito com degolamento pelos muçulmanos, não deve ser proibido. Mas pergunto: e se a minha família se lembrasse de fazer a matança tradicional do porco, não no Alentejo mas nas terras altas Argelinas? Com que direito nos poderiam proibir de vivermos as nossas tradições? É que embora o Ocidente não seja, infelizmente, completamente tolerante para com a religião islâmica, a intolerância contra os cristãos em certos países de maioria Islâmica é verdadeiramente chocante: no Irão, a pequena minoria Católica pode realizar missa e procissão... mas a procissão tem que ser feita toda dentro da igreja!
Creio que a Europa, como continente humanista, vai eliminar a pouco e pouco todas as formas de intolerância. E mais: a influência europeia deverá pressionar outros países a serem mais tolerantes com os cristãos. E não estou a falar apenas de países islâmicos, pois na China todos os bispos católicos são nomeados directamente por políticos do Partido Comunista. Para mim, que sou uma pessoa tolerante e apreciadora da liberdade, estas situações são incompreensíveis no início do século XXI. Cabe à Europa começar a usar a sua influência diplomática e comercial para que os países onde a intolerância persiste evoluam e respeitem as liberdades de todos os seus cidadãos. RM

segunda-feira, dezembro 08, 2003

PASSEIO ALEATÓRIO: Há dias em que não dá. Estudo, estudo, trabalho e trabalho. Tal como ontem, também hoje tinha tudo à minha disposição: os livros espalhados e em pilhas, post-its por todo lado, folhas, folhas e mais folhas. O meu mundo. O caminho para lá chegar. Mas há dias em que não dá mesmo. As ideias não flúem. A vontade falha-nos. A televisão é má conselheira. O dia inteiro. A noite cai. A casa deserta. Hoje foi um daqueles dias em que não se avança. Nada a fazer: é pegar no casaco e sair para caminhar. Isso mesmo, caminhar, deixar de respirar o ar viciado do quarto ou da sala. Calçar-me, pegar no casaco e sair. Não quero saber. Não é altura de estar bonito, arranjado ou com o casaco certo. Apenas sair e andar até me fartar. E saio. Para onde vou? Não sei. Vou andar sem destino. Nunca faço isto, não costumo fazer. Subo a rua, indeciso. Está frio. As ruas desertas e molhadas, as luzes dos candeeiros reflectidas nas poças. Os carros esparsos e distantes a passar na avenida. Hoje é feriado. Fim do fim-de-semana prolongado. Ninguém nas ruas. O frio da noite nos pulmões e no rosto. A confusão a dissipar-se. Nenhuma ideia. A mente limpa. Apenas caminhar. Uma ou outra família, aqui e além a desfazer a mala do carro, regressada de férias. Amanhã é dia de trabalho. Nem quero pensar nisso. Não escolho as ruas, as avenidas, as escadas nem as direcções. Apenas caminho. Faço caminhos que não fazia há anos, subo escadas que nunca tinha subido. Sigo para Norte, pela rua das escolas, a rua que percorri centenas de vezes, até há poucos anos. Nunca mais a tinha subido a pé. Vêm-me à memória imagens, sons e memória desses anos, uma por cada passo. Nenhum carro. O silêncio e a noite. Imagino-me, divertido, como um fantasma regressado, uma alma penada que fatalmente regressa a um sítio onde foi feliz. No fim da subida, finalmente a escola. A Secundária. A entrada ainda está no mesmo sítio, os portões fechados. Os avisos afixados. O curso de Verão em Inglaterra, no próximo Verão. As famílias avisadas com antecedência. Tudo como dantes. A noite fria. Amanhã é dia de aulas. Sigo para cima e detenho-me, olhando para trás. Quando aqui andava não havia este parque de estacionamento à entrada, apenas um terreiro de gravilha. As coisas mudaram. Olhando para lá da vedação metálica, à luz mortiça e deserta dos candeeiros, vejo que aquela caixa de terra baldia por onde passávamos, vindos do campo no fim do intervalo, já não existe. Agora é um aprumado canteiro, com relva, flores e árvores. O campo já não está lá. Finalmente a miudagem tem um ginásio, do mais moderno, aquecido e europeu. Segundo normas. Novinho em folha. Talvez um dia, quando aquelas árvores forem crescidas e o ginásio tiver histórias para contar, talvez nesse dia esta escola, construída à pressa no final dos anos oitenta, possa lembrar-se dos que aqui andaram. Dos que aqui estudaram, jogaram, namoraram. Dos que aqui foram felizes. Uma escola com memória. Uma escola a que este bairro, esta gente possa chamar de sua. A minha escola. Esse dia chegará, tenho a certeza. Sigo mais para Norte. À minha esquerda, o bairro da Lusoponte. Casas térreas e aprumadas, as ladeiras de relva e árvores. Decido atravessá-lo. Nunca o fiz. Faço-o agora, sentindo-me um estranho, um terrorista, um intruso. Os pátios, onde no Verão brincam os miúdos, estão desertos. Apenas a luz bruxuleante da televisão através das persianas. Lá em baixo, na avenida, passam os carros, os autocarros, o regresso das férias. Amanhã é dia de trabalho. Ruas que nunca percorri, sentidos que nunca escolhi, caminhos que nunca fiz. Está frio. As ideias a surgirem, novas e a uma nova luz. Cristalinas, mais seguras. Falo comigo. Tudo parece ganhar proporção. Já tenho um plano traçado, um caminho a seguir. Bendita ideia. Regresso a casa. As ideias regressam comigo. O trabalho faz-se, de uma forma ou de outra. Sem ter sido um dia muito produtivo, é um dia salvo. Olho pela janela. O som dos carros a passar no asfalto molhado. Uma semana que aí vem. Uma ideia que me salvou o dia. O som dos meus passos nas avenidas desertas. O frio e a noite. Caminhar é preciso. JR
GANDA PUTO!: Um menino de ouro nasceu ontem e tambem se chama João. Mas nada de confusões. Aquele sabe mesmo tratar uma bola. Já agora, será que ele tambem tem um blog? JR

domingo, dezembro 07, 2003

VERGONHA: Eu sei. Temos andado desaparecidos. As fãs desesperadas. Imperdoável. Trabalho, cansaço, râguebi, trabalho, uma ou outra diva e trabalho, muito trabalho. Uma vergonha. JR

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